domingo, 15 de maio de 2011

Locadoras, um habitat em extinção.

Por Juliana Portella

Não há nada melhor que poder assistir àquele filminho no sofá de casa. Ir até uma tradicional vídeolocadora, ficar horas por aqueles corredores sortidos escolhendo qual filme levar. Olhando capas e lendo sinopse. As facilidades de acesso a filmes pela internet ou com o camelô da esquina ainda não substituíram a sensação de estar em uma locadora.


Porém, de alguns anos para cá, muitas locadoras estão fechando suas portas. Cada vez mais escassas , podem ser consideradas um hábitat em extinção. Os motivos são muitos. A facilidade de se baixar filmes pela internet, aumento de usuários de TV a cabo e concorrência com o comércio alternativo (camelô) são as principais causas.

A internet foi uma grande invenção. Essa nova tecnologia faz com que qualquer música ou vídeo esteja ao alcance de todos através da rede. Dá para contar nos dedos usuários que resistem ao copyleft.

Exceção a esse cenário que vem se apresentando é a Cavídeos, que há 14 anos procura ser muito mais que uma simples locadora. Localizada na cidade do Rio de Janeiro, no Humaitá, em Botafogo, além de disponibilizar vídeos para seus clientes, a locadora mostra seu diferencial ao organizar mostras, lançamentos de livros, filmes e tudo mais que possa atrair o público alvo. A videolocadora, que também é produtora e distribuidora cinematográfica, se destaca por ser um ponto de encontro de cinéfilos e amantes de arte.

Ser referência exige dedicação. “Sabemos que a diferenciação é o único meio de sobrevivência. Procuramos filmes que ninguém tem, nossos funcionários sabem muito sobre os filmes e sobre cinema de uma forma geral. Trabalhamos 24 horas e nunca fechamos nossa loja”, garante o cineasta e dono da locadora, Cavi Borges.

A locadora oferece curtas-metragens gratuitos, animações para adultos, filmes de surf, documentários raros e filmes importados, entre outras coisas diferenciadas. E é assim que a Cavídeos sobrevive à corda-bamba das locadoras.

Com um leque de estratégias que transformam a ida à locadora em uma experiência gratificante, não se espanta com a pirataria. Segundo Cavi, a pirataria é uma consequência natural dos preços abusivos praticados pelo mercado audiovisual. “Uma vez vieram me vender o DVD do filme Pixote por R$ 115. Poderia ter comprado cinco cópias e acabei comprando uma. No dia seguinte, vi o filme pirateado nos camelô por R$ 5. Como esperar que as pequenas locadoras sobrevivam com esses custos?”

As poucas locadoras de Nova Iguaçu que sobreviveram a essa nova era também têm suas estratégias. No Condomínio Vila Ângela, no bairro da Luz, existe uma “locadora-lanhouse-mercadinho”. Não necessariamente nessa ordem, segundo o técnico em edificações Felipe Souza, morador do condomínio. “A princípio era só uma locadora, agora a dona teve que fazer, além da locadora, um minimercado, lan house, mas a locadorinha ainda tá lá no cantinho“, diz Felipe Souza.

Seja por culpa da pirataria ou popularização da internet, o fato é que ter uma locadora não é mais um negócio lucrativo. No entanto, tem que haver luz no fim do túnel para essa realidade. As locadoras guardam a memória e arte do cinema que não se alcança com um clique

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Falando Sério sobre a Baixada

Por Juliana Portella

O conhecido projeto entre estudantes normalistas da Cidade de Nova Iguaçu, o Fala Sério!, que é realizado toda quinta-feira no Sesc, sempre em dois horários, das 9h às 12h e das 14h às 17h, teve uma edição especial em comemoração ao aniversário da Baixada, celebrado dia 30 de abril. O que era pra ser uma exibição de filme acompanhada de debate foi um voo histórico com direito a debate de agitadores culturais e historiadores locais, sobre a contemporaneidade da região e suas potencialidades.
A estudante do curso normal no Instituto de Educação Rangel Pestana, Jéssica Teixeira, 19 anos, conta que o evento reúne muitos alunos desse segmento pela necessidade de horas de estágio, que são contadas através de atividades culturais como essa, mas que não é o seu caso. "Eu até já fechei minha carga horária e mesmo assim não perco uma edição do Fala Sério! Gosto muito dos filmes exibidos aqui. São filmes que sempre nos fazem pensar e depois ainda tem debate com algum profissional da área do tema abordado, onde podemos participar”, conta a futura professora, ansiosa para assistir aos filmes dessa edição especial.

Como de costume, antes da exibição dos curtas, a dupla de atores Elisabeth Pagu e Paixão Dias fizeram um esquete, desta vez contando um pouco da história da Baixada Fluminense e de Dom Adriano Hypólito, que foi bispo por muitos anos em Nova Iguaçu e um importante militante da luta pelos direitos humanos na região.

Em um segundo momento foram exibidos três filmes com enfoque histórico. O primeiro foi a animação “De Iguassu a Iguaçu”, produzido por alunos de uma oficina de animação do próprio Sesc. Em seguida foi a vez do “Um Voo Sobre a Baixada”, produzido pelo IPAHB (Instituto de Pesquisas Históricas e Análises Sociais da Baixada Fluminense), com imagens aéreas feitas pelo historiador Renato Kamp. Por fim, foi exibido um documentário da Diocese de Nova Iguaçu que contava sua trajetória através da história das igrejas da Região.

Para encerrar a maratona de filmes com chave de ouro, o último curta exibido foi o “Prazer, meu nome é Nova Iguaçu”, dirigido por Yasmin Thayná. Diferentemente dos filmes anteriores, que se baseavam numa viagem às riquezas históricas da região, incluindo quase sempre documentos antigos, ruínas e imagens religiosas, o filme da jovem cineasta mostrou uma Nova Iguaçu que poucos entendem como riqueza histórica. Com o objetivo de mostrar a cidade através de trabalhadores exercendo suas atividades, o filme foi gravado no Calçadão, onde funciona o shopping a céu aberto. As imagens capturadas no documentário reuniram personagens ilustres da cidade que fazem de seu cotidiano a história da região.

Yasmin Thayná, que é estudante de jornalismo, dividiu a mesa de debate com grandes nomess da História da Baixada, como o professor Guilherme Peres, do IPAHB, e o historiador Antonio Lacerda, do Centro de Formação de Líderes. Yasmin agitou a plateia de jovens estudantes iguaçuanos e mostrou que cultura em Nova Iguaçu vai além do Top Shopping.

A estudante Thaisa da Costa, 18, saiu do teatro animada com o que viu. " É legal ver alguém da minha idade e da minha cidade já envolvida em tantas coisas, com tantos objetivos de intervenção no mundo através da arte, da cultura."

Na próxima semana, o filme a ser exibido é "O Caminho das Nuvens" com Wagner Moura e direção de Vicente Amorim.