segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pelada Sagrada

Cabuçu ainda mantém a tradição do futebol de várzea

Por Juliana Portella



Na estrada que liga o bairro de Cabuçu ao município de Queimados, a Av. Severino Pereira, há um campo de futebol onde a rapaziada se reúne todos os domingos para bater aquela “bolinha”. É o Campo da Beira-Rio. A primeira pelada começa às sete horas da manhã, logo depois da oração puxada por Seu Souza, de 47 anos. Souza alia as funções de jogador com a de presidente do Boêmio, clube fundado em 1922. O adversário do último domingo foi o Botafoguinho, um de seus mais tradicionais rivais.


O time do Boêmio exige um requisito dos seus atletas: ter mais de trinta anos. Todos os seus atletas são moradores do bairro. Seu diretor, o Pedrão, chega querendo ser entrevistado, e dá a notícia, muito animado, de que, no dia 16 de maio, seu time vai jogar em Minas Gerais, na cidade de Belmonte. Embora seja bem mais novo que o Botafoguinho, que existe há 33 anos, o Boêmio não perde para o rival há três peladas. O presidente do Botafoguinho é o ex-goleiro Mário, de 59 anos. Apesar do nome, o Botafoguinho aceita vascaínos, tricolores e até mesmo flamenguistas.

A pelada começou onde hoje funciona o Ciep – 075. Desde aquela época, os rachas eram prestigiados por torcedores. Eles costumam acompanhar as peladas sentados em banquinhos protegidos pela sombra. Um dos torcedores mais fiéis é Gustavo, de apenas 10 anos. Ele vai ver o pai, o zagueiro Miguel. Apaixonado por futebol, o menino não reclama de acordar cedo no domingo. "Quando crescer quero ser jogador de futebol", diz Gustavo, com um sorriso no rosto.

Pelé de Cabuçu


Um dos craques da pelada é o atacante João André, que há 16 anos defende as cores do Botafoguinho. Com 40 anos, esse operário da construção civil é mais conhecido como Pelé. "Até minha esposa me chama assim", diz ele. Seu sonho de menino era se tornar jogador de futebol, mas não teve oportunidades de treinar em um clube profissional. Ele não perde uma pelada aos domingos.





Tão sagrada quanto a oração que a precede é a cervejinha compartilhada quando a pelada acaba., no bar em frente ao campo. "A gente fica aqui até a hora do almoço", conta Souza, o presidente do Boêmio. Duas vezes ao mês essa cervejinha se estende tarde a fora, enquanto os peladeiros assam uma carne. Tipicamente masculino, o programa dominical só conta com presença feminina nas comemorações de fim de ano. "Aí a gente chama a família e vai para um sítio em Jardim Laranjeiras", diz Mário.


Além da presença da família, as peladas de fim de ano mobilizam um número bem maior de jogadores. É que nesses ocasiões eles disputam uma espécie de campeonato, onde o time perdedor arca com as todas as despesas do churrasco de fim de ano.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Malabarismo Econômico na Baixada

Colocando laje em casa de uma maneira divertida e econômica

Por Juliana Portella

                       Existe uma maneira bem divertida e econômica de se colocar laje em casa. É muito comum em construções na região da Baixada Fluminense. Se faz um prato especial e toda a vizinhança trabalha e se diverte. Mas a história que hoje eu conto pra vocês foi um episódio inusitado, que aconteceu na casa da Márcia Cristina dos Santos, moradora do bairro de Cabuçu, Nova iguaçu. Num momento de dificuldades financeiras, o telhado da casa começou a apresentar problemas e a família resolveu colocar laje. O padrasto de Márcia fez um malabarismo econômico e comprou o material na loja de construção na vizinhança, antes de chamar os amigos que ajudariam a virar o concreto.
                        No dia de bater a laje, sua irmã mais velha fez uma feijoada para a rapaziada que iria trabalhar o dia inteiro. Eram cerca de 10 homens. O grupo era animado e trabalhador, mas a fama da feijoada da irmã dava mais disposição a eles. Todos sonhavam com aquela suculenta feijoada no final de um duro dia de trabalho. Os primeiros sinais de quem nem tudo ia sair conforme o planejado caíram do céu, juntamente com as gotas de uma chuva inesperada. Preocupados com os estragos da chuva, os homens acataram a idéia do chefe da laje. "Vamos forrar uma lona por cima do que já está pronto", anunciou ele, de cima do telhado. "A casa não é tão grande assim."
                 A rapaziada respirou aliviada quando a chuva passou, e retomou o trabalho. Mas quando os homens subiram para dar continuidade ao trabalho, a fome começou a perturbar o juízo do irmão de doze anos de Márcia. "Quando é que a gente vai comer aquela feijoada?", perguntava ele. Márcia pediu para que o menino aguardasse, mas ele, teimoso como uma mula, foi até o panelão pegar um pouco de feijoada. E desesperado de fome, ele esqueceu que a panela estava quente.
                Foi aí que a aguardada feijoada, com seus cheirosos pedaços de carne, lingüiça, orelha de porco, acompanhada não do arroz branco e farofa, mas do grito do menino. Não, o menino não se machucou, nem se queimou quando virou a panela. Mas, a feijoada, foi toda no chão. Que azar, ninguém mais saboreou a feijoada! E o coitado do menino, levou tanta bronca naquele dia que nunca mais se atreveu a teimar com suas irmãs. Com muita indignação, a irmã de Márcia teve que improvisar um macarrão, para aquele mutirão que trabalhara a manhã inteira. Márcia estava morrendo de vergonha quando serviu os pratos da rapaziada.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meu bairro tem história

Por Juliana Portella

                     Conta-se que em Nova Iguaçu havia um engenho de beneficiamento de cana-de-açúcar, para a transformação em açúcar e aguardente. E que há muito tempo atrás, ali existia uma colméia de abelhas grandes pras bandas do rio Cabussu. Onde atualmente é o bairro de cabuçu, que fica lá pras bandas da estrada de Madureira. Daí o nome: Cabuçu. Abelha graúda. Cabuçu também é nome de cada uma de duas plantas da família das Poligonáceas, significando: arbusto de flores brancas e frutos de propriedades adstringentes e refrigerantes.
                         Conta-se também que a existência da avenida Santa Cruz, conhecida popularmente por “linha velha”, origina-se de um ramal da antiga estrada de ferro, com o percurso entre Austin e Santa Cruz, inaugurada no final do ano de 1858, a qual tinha uma parada na estação de Cabuçu. Depois da linha desativada, as terras da “estação” e seu entorno foram compradas da rede ferroviária e, seu novo proprietário, aproveitando as linhas arquitetônicas da construção, ergueu ali sua opulenta moradia.
                      Nos dias de hoje, imagine andar pelas ruas de Cabuçu sem encontrar paz, essa tranqüilidade tão singular a que os moradores estão habituados. Pois, voltando um pouco o tempo e focando-se em um conjunto habitacional que faz parte da paisagem urbana (visto que Cabuçu também é zona rural), encontraremos, nele, as casas em meio a multicores.
                       É o conjunto habitacional Mário Andreazza (aquele mesmo senhor das grandes obras públicas, como a rodovia Transamazônica, nos tempos da ditadura militar), conhecido popularmente como “conjunto inferninho colorido”.
                       Pois bem, o conjunto assim ficou conhecido porque as primeiras residências foram construídas com tijolos coloridos e porque em um dado momento de sua existência teve uma fase meio violenta. Aí o porquê do inferninho.
                       Quem conta melhor essa história é a jovem Keilla C. da Silva, moradora da rua Vera Lúcia, em seu meio. Keilla diz que o conjunto foi palco de muitas confusões, dentre elas uma em que um padre foi vítima de umas chineladas!
                     Tal fato ocorreu no final da década de 80, na mesma rua Vera Lúcia que, na época, não era iluminada. Por conseguinte, os moradores viviam receosos, principalmente pelo crescimento alarmante de um boato de que um saci-pererê rondava aquela região.
                     No conjunto, à noite, as ruas ficavam praticamente desertas. Criança alguma se atrevia a brincar fora de casa e adulto nenhum ficava “dando sopa”, pois acreditando ou não no Saci, era melhor não provocar tal imagem.
                 Aconteceu que numa noite de lua cheia a avó de Keilla molhava, quase em sobressalto, as plantas de seu quintal quando ouviu um barulho diferente. Pareciam passos fortes de alguém se aproximando. A avó de Keilla, num misto de medo e pavor, se aproximou do portão para ver o que vinha e, em sua certeza, viu o Saci! Então sem pensar duas vezes, tirou os chinelos e arremessou-os um a um de encontro ao vulto negro.
                    Não era o tal Saci. Que engano! Era o padre da região que havia perdido o salto do sapato e as tachinhas do solado ao se arrastarem pelo chão provocava um barulho diferente e um tanto assustador na noite.
                     Há quem acredite que o conjunto sofreu a maldição do padre. Há quem diga que a violência seja o legado dessa história e seus mistérios. O fato é que em “inferninho colorido”, padre branco, de preto não entra.
                    Seria essa uma explicação? Mas maldição e século XXI não se combinam muito e Cabuçu continua a caminhar tranqüilo e saudável.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Estudantes do IERP fazem da festa uma forma de mobilização

Por Juliana Portella


  Tudo começou na quinta-feira anterior ao carnaval. Os professores do quarto ano do turno da manhã do Instituto de Educação Rangel Pestana haviam faltado e um grupo de cerca de 30 alunos se reuniu ao som de um violão. A única pretensão do grupo era fazer o tempo passar, quando começaram a tocar e cantar canções de gosto duvidoso, como as de Tiririca e dos Mamonas Assassinas.
                     A ideia pegou e na semana seguinte houve uma edição especial, homenagenado o Dia Internacional da Mulher com músicas como "Florentina" e "Estúpido cupido". Empolgadas com a adesão dos estudantes, as lideranças do grêmio viram no evento uma possibilidade de ampliar o movimento e providenciaram microfone, amplificador e violão elétrico para ampliar o alcance da festa. Outra providência tomada foi a extensão do Música de Quinta para o intervalo dos outros turnos.
                  A performance de July Hana na terceira edição do Música de Quinta, que cantou "O último romântico", de Lulu Santos, deu um ar de seriedade àquela brincadeira. “Ela arrasou”, conta Aline Ramos, aluna do quarto ano do curso normal e tesoureira do grêmio estudantil. Também foi nesse dia que cantaram pela primeira vez o que está se tornando o hino do Música de Quinta: "Versos simples", de Chimarruts. “Toda vez alguém canta”, garante Aline. Foi num desses intervalos que a dupla Leonardo Cota e Vitor de Carvalho apresentaram o hino da campanha da chapa Ultrajovem, de autoria desse último. "A música serviu para contagiar a galera", conta Aline Ramos.

Comida

A adesão dos estudantes vem crescendo a cada dia e as lideranças do movimento secundarista viram no evento uma oportunidade para mobilizá-los para as ações sociais. “A participação dos jovens passa a ser de forma prazerosa e construtiva”, arrisca Antônio Carlos, aluno do segundo ano do curso normal. Um dos entusiastas do projeto, Antônio Carlos recorre à música Comida, do grupo Titãs, para explicar a importância do Música de Quinta. “A gente quer comida, diversão e arte”, cantarola. Para ele, o Música de Quinta é uma oportunidade não apenas para formar novas amizades, mas para que os estudantes respirem de um cotidiano intenso dentro das salas de aula. “Muitas coisas poderão ser conseguidas através da troca de idéias, que nascem através da musica. As aulas passam a ser até mais agradáveis depois dos nossos encontros musicais”, acredita.
                O sucesso do evento levou a turma 2 do quarto ano fez uma paródia de um antigo sucesso de Michael Jackson, que será cantada na próxima quinta-feira. "A paródia será usada na campanha de arrecadação de fundos para a nossa formatura", conta Aline Ramos. "Ajude a gente pra formatura, ajude a gente deposite aqui a sua ajuda", cantarola.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mulher, Castidade e seus paradoxos.

Por Juliana Portella



Estava no site do oglobo hoje e fui ao link 'carnaval 2008', daí li uma matéria sobre Ângela Bismarchi modelo e recordista em cirurgias plásticas. parece que nesse carnaval, Angela vai fazer uma cirurgia para ficar japonesa. mas isso não importa agora. Ver a Foto de Angela Bismarchi hoje me fez lembrar de uma cirurgia que ela fez em uns anos, assim que casou com seu atual marido, o cirurgião Wagner Moraes. A cirurgia de reconstituição do hímem, a Himenoplastia. Daí então a jovem repórter aqui resolveu pesquisar. A Himenoplastia foi criada na França e chegou ao Brasil há mais de 10 anos. Ela virou moda entre as mulheres nos Estados Unidos e na Europa, onde surgiu. De acordo com o cirurgião plástico Wagner Moura, a operação é simples e quase não provoca dor. “O procedimento realizado com anestesia local dura, em média, 30 minutos”. A recuperação também é rápida. “Se a paciente deseja recuperar a virgindade para perdê-la em seguida, é possível ter relações sexuais após 15 dias”, diz o médico. Dados da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos: a himenoplastia é uma das mais solicitadas cirurgias nos últimos anos (governo Bush) e enche os bolsos dos cirurgiões. É resultado direto da Lei da Mordaça, da sacralização da virgindade e do estímulo à castidade. Eis um assunto interessante. A algum tempo atrás virgindade era sinônimo de honra. Será que ainda é, gente? Acho que essa cirurgia só defende a ultrapassada idéia onde a dignidade da mulher esta entre suas pernas e a sua honra na integridade himenal. Tá certo que sexo não é como limpar os ouvidos, simples e corriqueiro. Acredito que é auge do carinho, do tesão, do amor..E cada um sabe de si. Guardar “virgindade” ou transar sem a obrigatoriedade de casar são opções de foro íntimo das mulheres na era dos direitos humanos. Injustiças e crimes ainda são cometidos às custas da ignorância masculina sobre os tipos ou a ausência de hímen; e pela não primazia da “defloração” (ah, nome feio!) do cabaço (ah, nome horroroso!) de suas mulheres. Que ridículo! A ''emancipação'' ou pseudo liberação da mulher não pode estar condicionada a liberdade de cometer atos de obscenidades degradando desta maneira a si própria. Em suma, foi criado um conceito falso de liberdade, e através dos meios de comunicação ele é propagado, a mulher entorpecida pela perspectiva ilusória de ''gozar a vida sem culpas'' consomem-na avidamente sem que se apercebam que a sua verdadeira liberdade lhe é pouco a pouco retirada; principalmente a sua dignidade enquanto ser humano. Não estou sendo conservadora não, muito pelo contrário. Mulher não é mercadoria. Virgindade não é ouro. "O hímen, uma reles membrana no intróito vaginal, não é “aquela” muralha de concreto que exige “arrombamento”, donde jorrará um mar vermelho de sangue. Ele pode ter abertura anelar larga ou ser complacente – permitindo a penetração, dando a impressão que “já era” – e muitas mulheres nascem sem hímen. Diz a Ginecologista Fátima Oliveira. É importante que a sociedade, principalmente as mulheres não sejam neoróticas a ponto de acreditar que liberdade e dar pra todo mundo, só fazendo juz ao que a mídia afirma. Contudo, nós mulheres, devemos ocupar, de fato o espaço. Alcançar a emancipação. E a tão sonhada liberdade.