sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meu bairro tem história

Por Juliana Portella

                     Conta-se que em Nova Iguaçu havia um engenho de beneficiamento de cana-de-açúcar, para a transformação em açúcar e aguardente. E que há muito tempo atrás, ali existia uma colméia de abelhas grandes pras bandas do rio Cabussu. Onde atualmente é o bairro de cabuçu, que fica lá pras bandas da estrada de Madureira. Daí o nome: Cabuçu. Abelha graúda. Cabuçu também é nome de cada uma de duas plantas da família das Poligonáceas, significando: arbusto de flores brancas e frutos de propriedades adstringentes e refrigerantes.
                         Conta-se também que a existência da avenida Santa Cruz, conhecida popularmente por “linha velha”, origina-se de um ramal da antiga estrada de ferro, com o percurso entre Austin e Santa Cruz, inaugurada no final do ano de 1858, a qual tinha uma parada na estação de Cabuçu. Depois da linha desativada, as terras da “estação” e seu entorno foram compradas da rede ferroviária e, seu novo proprietário, aproveitando as linhas arquitetônicas da construção, ergueu ali sua opulenta moradia.
                      Nos dias de hoje, imagine andar pelas ruas de Cabuçu sem encontrar paz, essa tranqüilidade tão singular a que os moradores estão habituados. Pois, voltando um pouco o tempo e focando-se em um conjunto habitacional que faz parte da paisagem urbana (visto que Cabuçu também é zona rural), encontraremos, nele, as casas em meio a multicores.
                       É o conjunto habitacional Mário Andreazza (aquele mesmo senhor das grandes obras públicas, como a rodovia Transamazônica, nos tempos da ditadura militar), conhecido popularmente como “conjunto inferninho colorido”.
                       Pois bem, o conjunto assim ficou conhecido porque as primeiras residências foram construídas com tijolos coloridos e porque em um dado momento de sua existência teve uma fase meio violenta. Aí o porquê do inferninho.
                       Quem conta melhor essa história é a jovem Keilla C. da Silva, moradora da rua Vera Lúcia, em seu meio. Keilla diz que o conjunto foi palco de muitas confusões, dentre elas uma em que um padre foi vítima de umas chineladas!
                     Tal fato ocorreu no final da década de 80, na mesma rua Vera Lúcia que, na época, não era iluminada. Por conseguinte, os moradores viviam receosos, principalmente pelo crescimento alarmante de um boato de que um saci-pererê rondava aquela região.
                     No conjunto, à noite, as ruas ficavam praticamente desertas. Criança alguma se atrevia a brincar fora de casa e adulto nenhum ficava “dando sopa”, pois acreditando ou não no Saci, era melhor não provocar tal imagem.
                 Aconteceu que numa noite de lua cheia a avó de Keilla molhava, quase em sobressalto, as plantas de seu quintal quando ouviu um barulho diferente. Pareciam passos fortes de alguém se aproximando. A avó de Keilla, num misto de medo e pavor, se aproximou do portão para ver o que vinha e, em sua certeza, viu o Saci! Então sem pensar duas vezes, tirou os chinelos e arremessou-os um a um de encontro ao vulto negro.
                    Não era o tal Saci. Que engano! Era o padre da região que havia perdido o salto do sapato e as tachinhas do solado ao se arrastarem pelo chão provocava um barulho diferente e um tanto assustador na noite.
                     Há quem acredite que o conjunto sofreu a maldição do padre. Há quem diga que a violência seja o legado dessa história e seus mistérios. O fato é que em “inferninho colorido”, padre branco, de preto não entra.
                    Seria essa uma explicação? Mas maldição e século XXI não se combinam muito e Cabuçu continua a caminhar tranqüilo e saudável.

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